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A minha convidada de hoje é a Isa, blogger que assina lost in wonderland, um blog que fala sobre passeios e viagens, lifestyle e entretenimento. Este chá vez-me pensar e estou certa que também vos fará a vocês.
Sofia, sei que enquanto tomamos este belíssimo e aromático chá verde com menta, tu queres transportar-me para fora da minha zona de conforto. Não é muito difícil, porque procuro fugir de registos mais sérios ou sorumbáticos, tanto no blog como na vida real.
Vou confessar-te uma revelação que tive, e que me deixou um bocado triste comigo própria.
Num destes fins-de-semana de verão em que estive na terrinha (Lagos), fui dar a "voltinha dos tristes" e parei na ponta da Piedade. E ali fiquei uns momentos, a contemplar o frenesim de turistas naquelas falésias. Havia gente de várias nações, e até um casal de noivos apareceu para tirar as fotos da praxe. A ar maravilhado de todas aquelas pessoas contrastava com o meu ar entediado, perguntava-me silenciosamente o que raio de especial tinha aquela cidade, para as pessoas andarem por ali tão excitadas. E nesse momento, fui surpreendida por uma amarga constatação:
Eu não consigo apreciar os sítios onde vivo.
Não só Lagos, como também Sagres, e até Lisboa. Fiquei ali, engasgada e a sentir-me um bocadinho mal com aquela revelação. Se fossem sítios desinteressantes, ainda compreendia.. mas estamos a falar de locais que recebem milhares de visitantes por ano, são amplamente elogiados lá fora pelas suas inúmeras características. Consigo reconhecer que existe beleza e interesse, mas não consigo apreciá-los ou vivê-los como merecem. Na verdade, quase tudo me aborrece neles.
Lagos é uma das cidades algarvias que tem estado na mira dos turistas nacionais e estrangeiros nos últimos anos. É reconhecida pela beleza natural das suas muitas praias, pela cor e recorte das falésias, pelo seu património histórico, pelo ambiente vibrante que se vive nas suas pitorescas ruas.
E a mim, só me apetece sair de casa se o destino for a Croissanteria 29, que faz os melhores croissants do mundo, ou a pastelaria Gombá, pelo seu estupidamente delicioso bolo de café.
Sagres pode até nem ser das vilas mais bonitas ou genuínas que existem em Portugal, e o seu importante passado histórico quase passa despercebido, mas está localizada numa das zonas mais deslumbrantes do país. As suas praias quase selvagens atraem gente o ano inteiro, a beleza bruta das falésias e as paisagens dramáticas sobre o oceano deixam-nos sem fôlego. Todos os dias centenas de turistas aplaudem o pôr do sol na ponta do Cabo de S. Vicente, num cenário capaz de fazer rolar lágrimas de emoção.
No entanto, fiquei tão farta deste sítio ao fim de uma década, que hoje em dia nem me apetece meter lá os pés.
Lembro-me de ser jovenzinha e sonhar viver em Lisboa, era o meu desejo acima de tudo. E um dia consegui tornar esse sonho realidade, vim de armas e bagagens para Lisboa, sem intenções de voltar. Não só pela dimensão da cidade, como por ser onde tudo acontecia.
Cada vez mais Lisboa é uma cidade visitada e adorada por pessoas de todo o mundo. Está cada vez mais bonita e tem imenso para explorar: ruas, bairros históricos, museus, monumentos, parques e jardins, lojas, restaurantes, etc. Há sempre mil e uma coisas interessantes a acontecer, que enchem todos os fins-de-semana do ano. No entanto, sempre que tenho tempo livre, piro-me daqui para fora!
Passados quinze anos, ainda existem muitas zonas da cidade que não conheço, e não encontro grande motivação para ir descobri-las.
Ainda tenho este tema atravessado na garganta, mas não tenho tido oportunidade para grandes introspeções, e sinto que devia dedicar-lhe alguma atenção. Imagina que perdia a cabeça e amanhã mudava-me para um dos sítios onde neste momento me vejo a viver. E depois, o que acontecia ao fim de algum tempo? Iria perder o interesse e deixar de gostar desse sítio também? Não é muito fixe.